domingo, 17 de janeiro de 2016

Entrevista no CinéWomen 2016

Segue abaixo a entrevista que dei para a publicação anual americana Cinéwomen que neste ano homenageia as mulheres no cinema.



Link para a Women Art Connect: www.womenartconnect.com

O artigo em português:

Com coragem e sensibilidade, Chrys Rochat cria uma mistura radical de técnicas dramáticas e de documentário: 6 Dias em Chubut é um trabalho de cinema aventureiro e uma jornada emocionalmente penetrante. Temos o prazer de apresentar Chrys Rochat na edição deste ano do CinéWomen Edition.

CW. Chrys, fale-nos de sua trajetória como cineasta e cinematógrafa. O que a inspirou a se expressar através desse meio?

CR. Eu comecei na indústria como atriz em Los Angeles, onde eu morei em torno de 8 anos, mas escrever tem sido uma parte muito importante de meu desenvolvimento como artista. Gosto de expressar minhas ideias à minha maneira, além disso, sou leonina, portanto, gosto de mandar nas pessoas, com tudo isso, eu tinha de ser diretora! (Risos) Então, eu estudei roteiro, direção e edição em Los Angeles e posteriormente, fotografia para cinema na República Dominicana onde eu também morei por um ano.
  
CW. Em 2012, você abriu a sua produtora Sin Fronteras Filmes no Rio. Pode contar aos nossos leitores sobre essa experiência incrível?

CR. Eu sou nômade. Desde os 18 anos, vivi entre os Estados Unidos, a Europa, a América Latina e viajei por mais de 23 países, não como turista, mas realmente passando tempo e tentando conhecer essas culturas. Passei um mês inteiro viajando por todo o Marrocos e já estive até na Islândia. Digo, quem vai para a Islândia? Brincadeira, é um lugar fantástico. Então, quando eu voltei ao Brasil em 2012, senti a necessidade de me instalar um pouco para fazer coisas maiores e eu decido abrir a minha própria produtora para me concentrar em fazer cinema aqui. Escolhi esse nome “Sin Fronteras”, porque eu sempre serei “Sem Fronteiras” e eu quero fazer filmes para o mundo.

CW. Como você teve a ideia de 6 Dias em Chubut?

CR. Bem, essa é uma história engraçada. Uma tarde em agosto, Didier me liga do Skype de Genebra na Suíça dizendo que estava no aeroporto e estava vindo para a Patagônia na Argentina filmar as baleias para um documentário que seu amigo Thomas Fuss estava fazendo e que se eu quisesse ver as baleias, essa era a minha chance. Então, na manhã seguinte, eu peguei um avião e fui encontrar os rapazes em Buenos Aires, para que pudéssemos ir para a Patagônia para nossa expedição. Sempre foi o meu sonho de ir à Patagônia e isso era apenas 3 dias antes do meu aniversário. Na verdade, isso era logo antes da Copa do Mundo e eu devia ir filmar com uma equipe alemã no Paraguai, para entrevistar o time de futebol paraguaio e para mim não havia dúvidas, eu simplesmente chutei o trabalho alemão e segui para a Patagônia para uma aventura muito mais empolgante. Afinal, quando você tem de decidir entre o time de futebol paraguaio e as baleias da Patagônia para o seu aniversário, o que mais você pode escolher?

CW. Pode falar sobre o seu relacionamento criativo com Didier Noirot e como o trabalho de vocês evoluiu?

CR. Didier é um profissional espetacular. Ele é um mergulhador e cinegrafista marinho tão talentoso. Ele ganhou um Emmy pelo seu trabalho e eu fiquei muito impressionada em como ele é capaz de filmar a vida selvagem debaixo d’água. Eu trabalho bastante para o Discovery Channel, traduzindo, legendando, dublando e dirigindo dublagens. eu já trabalhei em mais de mil filmes e séries para o mercado nacional. Didier era o astro de uma das séries que eu traduzi para o Animal Planet, então, nós nos conhecemos e decidimos que íamos desenvolver um projeto para rodar no Brasil sobre a vida selvagem nos mares e rios de todo o país. Ele é tão focado e tão corajoso. Tenho tanta sorte de ter a oportunidade de ver o trabalho dele de perto e também de ter conhecido Thom e de ver o belo trabalho que ele também estava fazendo. Foi engraçado ser a única garota numa equipe predominantemente masculina. No início, todos eles pensavam que eu ia ficar de “mimimi” ou reclamar, mas eu surpreendi a todos eles! Hahaha

CW. Humor sutil e cinematografia expressiva tornam 6 Dias em Chubut uma experiência que te transporta. Como você desenvolveu o seu estilo de filmar?

CR. Olha, eu sou brasileira, não dá para tirar humor e a sagacidade de nós. Eu devo dizer que a experiência de 6 Dias em Chubut foi a mais natural, espontânea e profunda que eu já tive em filmar, simplesmente porque nada era planejado. Nada podia ser planejado, porque a natureza é alago que simplesmente acontece. Você não pode dar a deixa de quando a baleia vai aparecer, você não pode controlar o clima ou o movimento do barco, então, era uma absoluta surpresa a cada minuto. Eu me apaixonei pelas baleias, toda a surpresa que você vê na tela é autêntica, é viva. Ver a natureza em todo o seu poder nos dá a verdadeira noção de nossa insignificância e de ter consciência de que você é apenas um humano diante de coisas tão maiores que você e também de ver que com todo o seu tamanho elas podem ser tão dóceis e atenciosas com você. Elas te sentem, elas olham nos seus olhos, elas entendem que você é um humano e que elas são baleias imensas e que elas tem de ser gentis com você, porque você é frágil em relação a ela e isso é simplesmente incrível. E como cineasta, eu apenas tentei capturar trechos do que eu vivi e senti estando lá e é por isso que esse filme é um documentário do meu ponto de vista da expedição. Não poderia ser de outra forma.

CW. Desde a primeira vez que vimos o seu documentário, pensamos no cinema de Werner Herzog. Pode nos dizer quais são as suas maiores influências no cinema?

CR. Oh meu deus! É uma honra imensa ser comparada a um diretor tão importante quanto Herzog, não faço ideia do que eu fiz para merecer isso. Bem, eu admiro muitos diretores como o próprio Herzog, Wim Wenders, Costa Gavras, Ken Loach, e também caras mais jovens como Thomas Vinterberg, cujo “Festa de Família” foi muito importante para mim, quando fiz o meu primeiro filme em Los Angeles e vi a oportunidade de usar o  digital para expressar uma ideia forte. Mas também sou muito influenciada pelo cinema francês, porque o meu grande mestre foi o meu próprio marido, Eric Rochat, que era um diretor francês e fez muitos filmes, incluindo “O Quinto Macaco” com Ben Kingsley e a trilogia de “História de O”. Como eu morei na França por 6 anos, e tive a oportunidade de ver muitos trabalhos de Truffaut, Goddard e outros diretores franceses, e eu adoro a atmosfera intimista, a profundidade das tramas e as sutilezas do humor francês. Eu não poderia enumerar todos os filmes e diretores que eu gosto, mas como a minha maior escola foi Los Angeles, eu não poderia deixar de mencionar Hitchcock, Orson Welles e David Lynch, que eu sou muito ligada. Ainda estou procurando o meu próprio jogo, mas tenho grandes caras para me inspirar.

CW. O que foi o mais desafiador na execução desse filme?

CR. Acho que o frio, foi a coisa mais desafiadora para mim. Ir de 35°C no Rio de Janeiro para 2°C de ventos polares na Patagônia foi bem duro. Houve um momento em que eu pensei comigo mesma: “Que diabos eu estou fazendo aqui? Se eu não posso suportar o vento lá fora por 2 minutos, como é que vou conseguir ir num barco em mar aberto por 6 horas?” Acho que tudo compensou no final, porque hoje o filme já esteve em dois festivais no Brasil: Festival Internacional de Televisão e X FATU em 2014, e agora em Setembro de 2015, ele vai para o Handle Climate Film Festival em Shenzhen na China, Voices From the Water em Bangalore e o 3rd Indian Cine Film Festival em Mumbai, ambos na Índia. 

CW. Por mais de meio século, mulheres têm sido desencorajadas de estar por trás das cameras, contudo, nas últimas décadas há sinais de que isso está mudando. Qual é a sua visão do futuro da mulher no cinema?

CR. Eu acho que as mulheres foram desencorajadas de muitas coisas no passado e ainda são hoje, mas isso não nos impede de fazer o que realmente queremos. Eu não penso como uma mulher, eu penso como um ser humano. Eu não acredito que intelecto, talento ou determinação são ditados por gênero. Então, basicamente, eu acho que posso fazer qualquer coisa que eu decidir que vou fazer. Nesse filme em particular, durante a produção, eu estava cercada de homens e correu tudo muito bem, e quando eu voltei da expedição e comecei a fase de pós-produção, eu só tinha mulheres ao meu redor, como a minha produtora executiva e sócia nesse projeto, Vanessa Fontana, que abraçou a ideia, acreditou em mim e tornou a conclusão desse filme possível. E também Aglay Bond, minha advogada e Andrea Richa, minha melhor amiga, cujo feedback e apoio foram muito apreciados quando eu estava editando. Todas elas me ouviam descrevendo em detalhes, por horas a fio, como eu me apaixonei por uma baleia franca austral. É assim que as mulheres fazem filmes. :P
  
CW. Obrigado pelo seu tempo e pensamentos, Chrys Rochat. Nós te desejamos tudo de melhor na sua carreira. O que vem a seguir para você? Tem algum projeto em particular em mente?

CR. Sim, estou muito empolgada com o filme que estou produzindo e que vou dirigir ano que vem. É um roteiro original meu: Renomada escritora de mistérios, atormentada por um bloqueio criativo,  acredita ter visto um crime e agora quer desvendá- lo, mas acaba correndo perigo real, ao cair no intrincado submundo do tráfico de animais da Amazônia. Pressionada a escrever um novo livro, ela usa a morte de uma jovem índia como ponto central da trama, mas cai num dilema terrível: O crime realmente aconteceu ou é só fruto de sua mente obcecada por uma nova ideia? Logo, o que viu e o que escreve se misturam e já nem ela é capaz de distinguir a realidade da ficção.” Tenho um elenco muito importante no Brasil como Camila Morgado (Olga), a escritora, Eunice Baía (Tainá), a jovem índia, André Ramiro (Tropa de Elite), o investigador, entre outros e a distribuição é da Europa Filmes.




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